Tem barco pra atravessar? – pergunto a um dos quatro homens deitados na sombra, na beira do rio que separa Caraíva da estrada.
– Tem sim. Mas precisa esperar dez minutos. Pode começar a contar aí no seu relógio. Sempre que chega, tem que esperar uns minutinhos – e assim ficamos todos lá, deitados na sombra.
Foi desse jeito que chegamos a Caraíva. A espera era pra ver se o barco enchia, mas pra gente foi tipo um batismo: deixe a pressa e todos os seus problemas do lado de fora. Na pequena vila baiana construída entre o mar e o rio, não entra carro, as ruas são de areia, as casinhas todas coloridas, não há postes de luz (a fiação é subterrânea pra não poluir o visual), de noite se vê melhor as estrelas, e o tempo passa sem pressa.
O vilarejo que se manteve preservado
Dessa vez, viemos a Caraíva na baixa estação, em outubro, e encontramos uma vila calma e vazia. Também encontramos tudo praticamente igual ao que vimos na nossa última passada por aqui, há 15 anos. Pouca coisa mudou, tirando uma ou outra pousada que resolveu crescer mais do que devia. Caraiva é tão como antes que até a luz, quando chegou, veio por cabos subterrâneos, sem postes, pra não poluir o visual do vilarejo.
Fora isso, Caraíva é cercada por uma reserva indígena Pataxó, e ao mesmo tempo faz parte da Resex de Corumbau (Reserva Extrativista, criada há 12 anos num movimento liderado pelos índios e pescadores). O que quer dizer que a área está sujeita a várias regras de preservação e ocupação, e apenas os nativos podem explorar atividades como passeios e pesca. Isso faz com que eles tenham um sentimento maior de pertencimento ao lugar, não deixem a vila, e assim Caraíva não se descaracteriza como tantos outros lugares descobertos pelo turismo.